GILBERTO FREIRE...CASA GRANDE E SENZALA...

José Valdez de Castro Moura

    O sociólogo, antropólogo e historiador pernambucano GILBERTO FREIRE (RECIFE-1900-1987) teve uma existência profícua dedicada aos estudos sobre o Brasil. Foi, reconhecidamente um intelectual privilegiado! Esteve em Columbia (USA) onde defendeu a sua tese (1922): “Vida Social no Brasil em meados do século XIX”, sob a influência de outro grande sociólogo e antropólogo Franz Boas. Do “Mestre de Apipucos” (uma referência ao aprazível bairro de Recife onde residiu toda a sua vida) falou Monteiro Lobato, outro mito da nossa Literatura: “O Brasil vai ser o que Gilberto Freire disser: é um dos gênios da palheta mais rica e iluminante que estas terras antárticas ainda produziram”.

    Pioneiro no estudo histórico e sociológico dos territórios de colonização portuguesa, é importante salientar que Portugal sempre esteve presente no pensamento do Grande Mestre de Pernambuco. Gilberto Freire foi inclusive poeta! O seu poema: “Bahia de Todos os Santos e de todos os pecados” mereceu elogios rasgados do consagrado poeta, pernambucano como ele, Manuel Bandeira.

    A obra que Gilberto Freire nos legou é marcante. Na nossa modesta opinião, quem desejar entender o Brasil tem que conhecer a trilogia gilbertiana: “Casa Grande e Senzala”, (1933), “Sobrados e Mocambos”, (1936) e “Ordem e Progresso”, (1957). No contexto da sua obra, sem dúvida, “Casa Grande Senzala” foi o livro idealizado por ele; é o livro-mãe, a matriz teórica do seu pensamento. E, lembrar que enfrentou os vendavais do preconceito quando lançou o seu livro mais famosso há quase 80 anos! Um livro acusado por muitas sociedades como imoral e anticatólico! E, ele apenas dizia o que o povo falava; citava fatos da realidade brasileira. E, em 1933, um padre da congegação mariana, ligada aos jesuítas em Recife fez a campanha de queimar o livro em praça pública. Por pouco, os exaltados não queimaram o autor! “Casa Grande e Senzala” tornou-se um livro mais conhecido do que o próprio autor. Foi traduzido em diversas línguas em doze países; ultrapassou as 50 edições, um fato extraordinário no Brasil. Um livro que descobre os brasileiros quem somos; trata do que é ser brasileiro, da formação da sociedade brasileira. Louvemos o grande GILBERTO FREIRE que, entre muitos títulos e honrarias, foi Grande Oficial da Legião de Honra da França (2008) e Sir-Cavaleiro do Império Britânico (1971).

(Publicado no jornal Tribuna do Norte, ed. nº 8305)

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