A criação do museu de Pindamonhangaba
Altair Fernandes Carvalho
Em pesquisa realizada com o objetivo de buscar dados referente às origens do Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina, fomos encontrar na edição de 3 de julho de 1949 do Jornal 7 Dias (extinto), um artigo do professor Nelson Pesciotta (IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos), na época vereador local, no qual ele apresenta para consideração dos seus colegas do Legislativo Municipal, projeto de lei criando o Museu Histórico Municipal. Segundo Pesciotta, o museu deveria ser instalado no dia 1° de janeiro de 1950, anexo à Biblioteca Pública Municipal, (criada oficialmente em 13/2/1941). De acordo com o projeto de Pesciotta, ficaria o prefeito, era o professor Manoel Ribeiro, “autorizado a constituir uma comissão de vereadores e cidadãos, para recolher, por doações, objetos e documentos de valor histórico, para constituir o primeiro patrimônio do museu, e, igualmente para proceder a um levantamento que poderia ser adquirido, futuramente, om o mesmo objetivo”. O vereador alertava à população quanto à importância de se conservar o patrimônio histórico de Pindamonhangaba, que estaria se consumindo de forma injustificável. “Berço de figuras gigantescas do Império e da República; terra em que a tradição se conservou, como relíquia, no frontispício das vivendas coloniais, nas salas de jantar faustosas que marcaram o apogeu do café, bem como na austeridade conservadora dos pró-homens que até a pouco perambulavam pelas nossas ruas como marcando a presença do passado no nosso presente; a curiosidade turística, se por um lado tem contribuído para fazer de toda a cidade um permanente Museu Histórico e Artístico, por outro lado tem feito dispersar, por mágicas de interesse contra condescendência da nossa vida política e social”, justificava. Para concluir o motivo de sua iniciativa objetivando a criação de um museu na cidade, Pesciotta ressaltava que caberia à administração pública zelar pelo patrimônio histórico e cultural da Princesa do Norte e destacava:
“Quem aqui chega, sente se envolvido pela mística do nosso passado, que nos engradece e orgulha. Mas é necessário que se coloque, um dique à evasão das relíquias históricas de Pindamonhangaba. Com a generosidade das famílias tradicionais, com a pacenciosa procura, com seu cuidado carinhoso, poderemos reunir, em alguns anos, considerável soma de objetos, documentos, jornais, fotografias, e tantas outras cousas, que darão ao visitante arguto, uma ideia precisa do quanto foi grande a nossa gente e a nossa terra. E à nova geração, esse museu será um permanente convite ao trabalho fecundo em favor da dignificação do glorioso passado da Princesa do Norte.”
Um fato interessante a respeito desse projeto apresentado naquela ocasião à Câmara Municipal de Pindamonhangaba, pelo vereador Nelson Pesciotta, não pode deixar de ser mencionado. Segundo dados fornecidos pelo escritor de várias obras relacionadas à história deste município, Francisco Piorino Filho, o professor Nelson Pesciotta não é natural de Pindamonhangaba. Nascido em Campinas, sua família aqui residia. Aqui ele fez os estudos primário e secundário, foi professor, diretor e supervisor de ensino. Além de vereador também foi um dos fundadores e diretor do periódico local (extinto) jornal 7 Dias. Atualmente ele reside em Lorena onde preside o IEV – Instituto de Estudos Valeparaibanos e a ALL – Academia Pindamonhangabense de Letras. Esta revelação é mais uma prova de que assim como muitos pindamonhangabenses brilham fora deste município, há filhos de outros terras que aqui se destacam devido ao interesse e carinho pela história desta cidade e fatores ligados ao seu progresso e desenvolvimento. Pesciotta, que hoje também ocupa uma cadeira na Academia Pindamonhangabense de Letras, é deste naipe.
A instalação oficial do museu
Apesar dos esforços do vereador, a ideia de se criar um espaço para abrigar, preservar e proteger a história de Pindamonhangaba – uma história privilegiada por fatos e feitos ligados ao caminhar da própria pátria – só veio a tomar forma no ano de 1957 e consistência em 1958, quando, finalmente, aconteceu a instalação oficial do Museu Histórico e Pedagógico D. Pedro I e Dona Leopoldina. Este será o assunto da próxima edição de nossa página de História.
No início de setembro de 1957 (conforme registrou a Tribuna do Norte, edição de 8/9/1957) o município recebeu a notícia que o deputado estadual Narciso Pieroni havia apresentado o projeto de lei nº 1.213, o qual se referia à criação do Departamento de Museus do Estado de São Paulo e do museu de Pindamonhangaba entre os 25 que se pretendia instalar no interior do estado. A confirmação que o governador, na época o Jânio Quadros, havia assinado o decreto autorizando a Secretaria de Educação do Estado a instalar o museu de Pindamonhangaba saiu na edição de 15/12/1957 do jornal Tribuna. No entanto, somente um ano depois, no dia 8 de novembro de 1958, é que houve sessão solene na Câmara Municipal, com presença de comitiva do governo, para a instalação oficial do museu. A solenidade foi presidida pelo professor Waldomiro Benedito de Abreu, então, presidente do Legislativo. Os representantes do governo estadual que estiveram presentes foram: professor Fábio Moura, chefe de gabinete do secretário da Educação (que era o Dr. Alípio Correa Neto); Dr. Vinício Stein de Campos, presidente da Comissão Central de Museus do Estado; professor Bueno Azevedo Filho, representando o Instituto Histórico e Geográfico do Estado; professores Tito Lívio Ferreira, Mário de Campos Pacheco, Kyrillos Carlos e Bueno de Azevedo Filho. Naquele dia tomou posse o Conselho Administrativo Municipal encarregado da instalação e do funcionamento do museu, formado pelos professores: Wilson Pires Cesar, Dr. Demétrio Ivay Badaró, Jofre Alves Furquim, Waldomiro Benedito de Abreu, Mário de Assis Cesar, João San Martin, João Martins de Almeida e José Roberto Paim, e também pelo secretário municipal Vasco Cesar Pestana. Nos pronunciamentos referentes àquela importante conquista para o município, o secretário da prefeitura, Vasco Pestana, falou em nome do prefeito Dr. Francisco Romano de Oliveira; o professor Waldomiro de Abreu, pelo Legislativo, e o Dr. Demétrio Badaró, representando o Conselho encarregado da instalação e funcionamento do museu. Em seguida, encerrando o evento, se apresentou o orfeão João Antonio Romão, sob a regência da professora Cinira Novais Braga, a maestrina que se tornaria conhecida religiosa e popularmente como Madre Cecília. O Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina foi instalado nas dependências do palacete Visconde da Palmeira, que na época também abrigava o Colégio Estadual e Escola Normal João Gomes de Araújo.
Sobre a instalação oficial
O evento de instalação do museu, ocorrido no dia 8 de novembro de 1958, foi noticiado pelos semanários locais da época, Tribuna do Norte, edição de 16/11/1958, e Jornal 7 Dias, edição de 23/11/1958, entretanto, uma nova instalação oficial ou a instalação mesmo de fato só viria a ocorrer 14 anos depois. A edição de 5/8/1972 da Tribuna, traz em sua primeira página artigo questionando ainda a tal instalação oficial: “Há anos que o Governo do Estado, no propósito de dotar São Paulo de uma rede de museus, criou nesta cidade o Museu ‘D.Pedro I e Da. Leopoldina’, visando reunir aqui os elementos históricos relacionados com a Guarda de Honra de D. Pedro I, as lutas da Independência no Vale do Paraíba, e tudo o mais que recorde a época do Primeiro Império.” No parágrafo seguinte o redator da TN revelava que no ano de 1969, o prefeito de Pindamonhangaba (era o Dr. Caio Gomes Figueiredo) havia entrado em contato com o titular da Secretaria de Cultura Esportes e Turismo do Estado (era o Dr. Paulo Pestana), solicitando “que fosse instalado o nosso museu”. (outra vez?). O prefeito Dr. Caio usara como argumento no pedido ao governo, os preparativos para a comemoração do Sesquicentenário da Independência, “mas, de prático, apenas se obteve a nomeação do Dr. João Laerte Salles para a direção do museu”, revelava o artigo. Pelo menos, a Secretaria Estadual de Educação havia, finalmente comissionado o Dr. João Salles na Secretária De Cultura Esportes e Turismo, como diretor do museu. Quanto à inauguração, ela ficaria para o dia 2 de setembro de 1972 e integraria não os preparativos, mas os festejos alusivos ao Sesquicentenário da Independência. O evento traria a Pindamonhangaba os despojos do Imperador Pedro I. Uma noite de vigília seria realizada na igreja São José, onde Sua Alteza Imperial simbolicamente estaria novamente ao lado do comandante de sua Guarda Imperial e demais componentes pindamonhangabenses de seu esquadrão, sepultados naquele histórico templo católico.
A inauguração do Museu Pedro I e Dona Leopoldina, foi realizada às 11h30 do dia 2 de setembro de 1972, um sábado, no palacete que pertencera ao visconde da Palmeira (rua Marechal Deodoro, 260) . A solenidade fez parte da programação festiva elaborada para comemorar os cento e cinquenta anos de Independência do Brasil, cujo evento maior foi a presença dos despojos do Imperador a Pindamonhangaba. A inauguração antecedeu a festa que tomou conta do centro histórico do munícipio naquela tarde, com a presença de populares, estudantes, bandeirolas de Portugal e do Brasil, fanfarras, bandas, balões de gás aos céus, acorde de hinos e muita euforia. Foi assim o trajeto da urna vinda do Rio de Janeiro com os restos mortais de Pedro I com destino à igreja São José, onde permaneceu em vigília noturna até as 8 horas do dia seguinte, quando seguiu para a cidade de São Paulo.
Em sua edição de 9/9/1972, a Tribuna comentou que a inauguração do museu era uma das mais antigas aspirações dos pindamonhangabenses e a denominação da entidade, justa homenagem ao Imperador e à Imperatriz “que tudo sacrificaram pela nossa independência...”
Em seguida, o jornal destacou a atuação do diretor do museu, Dr. João Laerte Salles, que, “apesar do curto tempo de que dispôs, conseguiu que a inauguração fosse um sucesso, merecendo os elogios de todos os visitantes oficiais e do público em geral.”
Concluindo, lembrou que o museu continuava recebendo doações. As famílias pindamonhangabenses possuidoras de alguma relíquia ligada ao passado do município e interessadas em contribuir com o enriquecimento do acervo do museu, que entrassem em contato com o Dr. João Salles. Todos os doadores receberiam documentos comprobatórios da doação e teriam seus nomes inscritos nos anais do Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina.
Realizado o velho sonho da inauguração, o acontecimento seguinte sobre a entidade, mereceu nota na edição de 4/11/1972 da Tribuna, foi à contratação do artesão José Ferreira, o ‘Zé Santeiro’, para executar serviços de artísticos e de restauração no museu, o histórico Palacete Visconde da Palmeira.
Entre os serviços iniciais confiados ao artesão contratado estava a restauração dos desenhos em relevo que ornamentavam o teto de algumas salas do palacete e esculpir, em cerâmica, dois brasões do Império, o brasão do Visconde da Palmeira e o do Barão de Iapeva.
Campanha da Tribuna
Uma campanha iniciada pelo jornal Tribuna do Norte com o objetivo de auxiliar na constituição do acervo do museu encontrou a receptividade do povo pindamonhangabense. Na edição de 18/11/1972 da Tribuna foram divulgadas as doações e os doadores: O Dr. Cesar Salgado contribuiu com uma telha da Cerâmica Santo Antonio, do Porto (Portugal), que pertenceu ao beiral da casa do Barão de Romeiro, e um tinteiro de cristal da Boêmia; dona Olga de Godoy com uma tigela de cerâmica da famosa marca Maestricht; Benedito Marcondes de Godoy com uma machadinha indígena, provavelmente da tribo do Puris, antigos habitantes da região; e Euzébio Neto com um retrato do jornalista Rômulo Campos D’Arace.
Registramos como foi o início do funcionamento do Museu Histórico e Pedagógico Dom Pedro I e Dona Leopoldina. O assunto terá prosseguimento com informações relacionadas ao prédio ocupado pela entidade.
(Publicado no jornal Tribuna do Norte, ed. nº 8291, ed. nº 8295 e ed. nº8299 )
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